segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Torquato

"Quando eu escrevo, ou quando eu recito uma palavra, um mundo poluído explode comigo e logo os estilhaços desse corpo, retalhado em lascas de morte e fogo, como napalm, espalham imprevisíveis significados ao redor de mim."
(Torquato Neto)

Who i am?

"Não sei quantas almas tenho
Cada momento mudei
Continuamente me estranho
Nunca me vi nem acabei
De tanto ser, só tenho alma
Quem tem alma não tem calma
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,
Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou
Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que sogue não prevendo,
O que passou a esquecer
Noto à margem do que li.
O que julguei que senti.
Releio e digo: "Fui eu?"
Deus sabe, porque o escreveu."

(Fernando Pessoa)